segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Genealogia de um Poeta



Pois bem - me apresento:
Sou filho da Estupidez e do Descaso
irmão primogênito da Solidão
da necessidade ríspida de ter irmãos
Com tais armaduras
Reino sobre corpos inválidos e nus
...marginália dos desgraçados
dos malditos
dos sórdidos
dos cordeiros sem alma
e sem pasto...

ou talvez eu não seja tudo isso
mas afirme ser
para conseguir chamar a atenção
daqueles que acreditam ser o que não são
para talvez conseguir enganar a atenção
daqueles que acreditam ser o que não são
e não podem ser, e jamais poderão ser
E camuflam suas vidas num estado ficcional
com a devida prudência de desligar a TV
logo após as notícias em tempo real
da Guerra no Oriente Médio
mas ignoram em suas camisetas do “Che” a posição geográfica da base de Guantánamo
(inescrupulosamente fudidos nas mãos dessa merda de juventude ignóbil).

Esses mal percebem o que consomem
e me enrolam numa seda fina
e me lambuzam com suas línguas úmidas
e me fumam em baforadas inexpressivas.

a quem reclamar o contrabando adquirido?
a quem louvar quando a imagem se parte?
Não me importuna a surdez do mundo
os revólveres soarão ainda mais estridentes.

Sim. Venham: amontoem-se ao meu redor e ceguem-me
Dilacerem minhas córneas cuidadosamente
pois tantos outros as necessitam bem mais
e eu as utilizo de maneira indevida e pouca
Tudo em mim é CULPA
Arranquem-me das mazelas que me adornam
Sangrem os meus punhos em excessiva filtragem
em busca da quantidade devida do sangue precioso
para transfusões futuras nos seus pares.
Tudo em ti é CULPA
E o que buscaremos num mundo
onde a Culpa é a exceção dos fatos?

Mesmo em face pretendo todo o ato
e dou à luz a todo tipo de moleque
Feito os becos das cidades que se erguem arrogantes
e proliferam ratos virulentos e sádicos
que invadem as bolsas da burguesia
e se perdem entre brincos e maquiagens contrabandeadas
Me atinge a vileza ao tentar educá-los
reabilitá-los à irmandade entre tais
E antecipadamente me entristeço ao ser tocado pela Felicidade:
- a felicidade, senhores, é um prelúdio à depressão.
Nunca confie num homem que busca a felicidade.

Toda negligência atemporal hospeda-se em minhas costas
no peso daquilo que carrego
na responsabilidade de liderar uma revolução
sendo eu apenas um poeta ou um pedinte
levemente talhado no cotidiano das ruas.

Um amontoado de roupas sujas habita meu dorso diário rotineiro e ininterrupto
Um amontoado de roupas sujas é o que me faz acreditar que amanhã estarei disposto
disposto talvez a não mais usá-las
a levá-las ao auxílio das máquinas de triturar
resumindo-as em retalhos e lembranças
E isso pouco me aflige
As lojas me propõem tantas outras diversamente coloridas
e divertidamente entediantes
Mas as busco veementemente
pois assim o meu domingo é bem mais saudável
e assim sou aceito e compreendido entre os da minha legião.

Percebo o tédio transpor meus dedos
e arranco-me dos dedos que trago há tempos
Tenho olhos de amontoadas tristezas
e celebro a melancolia em mim:
- sou grato por isso
Doou preces aos homens
e ponho a minha educação distante de Deus
Bebo água benta em goladas volumosas
me alimento de hóstia e pão
como se a minha fome se desse
pela mera necessidade de manter a condição de alimentar-me em curso
e jamais me propondo cativo do alimento em si
mas sem perceber sendo cativo daqueles que me alimentam
Como fazem os cães aos pulos variantes nos braços de seus adestradores
Como fazem os rebanhos aos olhos atentos dos pastores calados.
Necessitaremos sempre de um líder?

Do vinho sou abstêmio
Não pretendo manchar minha roupa nova e dominical
Ousaria eu manchá-la?

Hoje tenho a surdez em meus braços
Afago o seu nariz
fazendo com que esqueça sua horrenda conduta
Queria tê-la sempre presente em meu bolso direito
pois é de fácil acesso à mão mais calma que possuo
No bolso esquerdo guardaria uma dolla ainda não amarrotada
para dar-lhe quando despertar dum sono confuso
Bem sei que o carrasco sofre não pela barbárie do ato
mas sim por ter que carregar o machado por toda a vida.

Afilhado da Loucura:
em meu adormecer
tive todas as flores
provei de todas elas
muitas sem nem tocar
...os melhores beijos
tive das bocas que jamais ousei...

Com devida prudência perceberão:
tenho olhos secos
mãos ásperas
e um timbre de voz salubre
Os meus dedos são breves
ou são longos os objetos que busco
Orixás me guiam e me abastecem com suas armas
Mas antes – envio um ofício
com pedidos de licença ao Vaticano
pois ainda não me enviaram a carteirinha de ecumênico
nem mesmo fui excomungado ainda.

Vivo vagarosamente em meu auxílio
dentro de mim
quase sempre me perco
Retorno apenas quando todos os meus mortos estão em paz
e o barulho que produzem
não mais me amedronta.

Da esperança que não alimento edifico meus vícios
A lança que te ergo
aceita-a sem preocupação cristã
À faca: pão e mesa
Distribuída ao pendular da matéria
Não se deve ver beleza
no produto concreto daquilo que se beija
Constroem-se os hábitos e as mobílias
baseados nos cômodos da casa
Ou será o contrário?
Não sei. Definitivamente, não sei
E fui corrompido a não saber
pela quantidade de alucinógenos que me entupiram quando criança
Sei que bebo a quantidade devida
do líquido que as fábricas de copo
me induzem sutilmente a beber
e armazeno todo o resto
em recipientes construídos milimetricamente
com o intuito de adestrar a minha sede rotineira
e toda a minha esperança
Como se fosse necessário e a TV não executasse sua função devidamente
Me parece que até mesmo meu estômago
sofre com isso
e guarda compulsoriamente
cada golada que arrebato
com a precisa e gentil adaptação dos músculos do meu estômago.

Como orquestro meus sonhos
com as mesmas notas
que ouço rotineiramente advindas das Rádios
Como pinto minha tela de ilusão
com as mesmas cores
que absorvo rotineiramente advindas da tela do cinema
Como cumpro minha Arte a partir da arte de outros
e o carimbo latente do Cristianismo.

I
I
I
à parte de tudo isso?
quando estarei enfim
I
I
I
I
I
I
I
I

O Homem é produto da Fábrica e do Medo
E ele que se adapte ao câncer
pois deve moldar seu paladar
ao dissabor do alimento que digere
Como deve modular sua audição
à música que ouve
E seguiremos por um adestramento imperceptível
como todo adestramento válido
que alcança sua extensão exata
e o resultado aguardado agrada a todos:
é quando o bicho que se adestra
não se percebe adestrado
e a vida prossegue imperceptivelmente alienada
numa anestesia coletiva
para que não possamos gritar a dor
e assim acordar os nossos vizinhos em desespero.

nos alimentos;
nas flores;
nas artes;
nos cartões de Natal;
nas bocetas cobiçadas das meninas do interior
A indústria implantou um anestésico vicioso
de aroma agradável em cada um deles
Assim a Liberdade e a Felicidade
são palácios onde dormimos num chão frio e úmido
mas que jamais ousaremos negligenciar.

Quisera flor para toda primavera;
Quisera sol para todo riso;
Quisera dor para toda marca;
Quisera coisa-além.
O mundo deveria ser mais autônomo e fugir de seu completo anonimato.

Sou o que virá.
E o que se perde na distância do tempo.
Na desconstrução dos hábitos.
Em ingênuos comportamentos.
Assim me anuncio entre vós

cuspido pelo requinte de vitórias parcas
e glórias efêmeras
de um heroísmo falso e batalhas previamente perdidas
de superações ultrapassadas e vontades mudas
Carrego um cetro imbecil
ornamentado pelo desgaste de uma dinastia apática.



Rafael Sarajevo

Genealogia de um Poeta




Pois bem - me apresento:
Sou filho da Estupidez e do Descaso
irmão primogênito da Solidão
da necessidade ríspida de ter irmãos
Com tais armaduras
Reino sobre corpos inválidos e nus
...marginália dos desgraçados
dos malditos
dos sórdidos
dos cordeiros sem alma
e sem pasto...

ou talvez eu não seja tudo isso
mas afirme ser
para conseguir chamar a atenção
daqueles que acreditam ser o que não são
para talvez conseguir enganar a atenção
daqueles que acreditam ser o que não são
e não podem ser, e jamais poderão ser
E camuflam suas vidas num estado ficcional
com a devida prudência de desligar a TV
logo após as notícias em tempo real
da Guerra no Oriente Médio
mas ignoram em suas camisetas do “Che” a posição geográfica da base de Guantánamo
(inescrupulosamente fudidos nas mãos dessa merda de juventude ignóbil).

Esses mal percebem o que consomem
e me enrolam numa seda fina
e me lambuzam com suas línguas úmidas
e me fumam em baforadas inexpressivas.

a quem reclamar o contrabando adquirido?
a quem louvar quando a imagem se parte?
Não me importuna a surdez do mundo
os revólveres soarão ainda mais estridentes.

Sim. Venham: amontoem-se ao meu redor e ceguem-me
Dilacerem minhas córneas cuidadosamente
pois tantos outros as necessitam bem mais
e eu as utilizo de maneira indevida e pouca
Tudo em mim é CULPA
Arranquem-me das mazelas que me adornam
Sangrem os meus punhos em excessiva filtragem
em busca da quantidade devida do sangue precioso
para transfusões futuras nos seus pares.
Tudo em ti é CULPA
E o que buscaremos num mundo
onde a Culpa é a exceção dos fatos?

Mesmo em face pretendo todo o ato
e dou à luz a todo tipo de moleque
Feito os becos das cidades que se erguem arrogantes
e proliferam ratos virulentos e sádicos
que invadem as bolsas da burguesia
e se perdem entre brincos e maquiagens contrabandeadas
Me atinge a vileza ao tentar educá-los
reabilitá-los à irmandade entre tais
E antecipadamente me entristeço ao ser tocado pela Felicidade:
- a felicidade, senhores, é um prelúdio à depressão.
Nunca confie num homem que busca a felicidade.

Toda negligência atemporal hospeda-se em minhas costas
no peso daquilo que carrego
na responsabilidade de liderar uma revolução
sendo eu apenas um poeta ou um pedinte
levemente talhado no cotidiano das ruas.

Um amontoado de roupas sujas habita meu dorso diário rotineiro e ininterrupto
Um amontoado de roupas sujas é o que me faz acreditar que amanhã estarei disposto
disposto talvez a não mais usá-las
a levá-las ao auxílio das máquinas de triturar
resumindo-as em retalhos e lembranças
E isso pouco me aflige
As lojas me propõem tantas outras diversamente coloridas
e divertidamente entediantes
Mas as busco veementemente
pois assim o meu domingo é bem mais saudável
e assim sou aceito e compreendido entre os da minha legião.

Percebo o tédio transpor meus dedos
e arranco-me dos dedos que trago há tempos
Tenho olhos de amontoadas tristezas
e celebro a melancolia em mim:
- sou grato por isso
Doou preces aos homens
e ponho a minha educação distante de Deus
Bebo água benta em goladas volumosas
me alimento de hóstia e pão
como se a minha fome se desse
pela mera necessidade de manter a condição de alimentar-me em curso
e jamais me propondo cativo do alimento em si
mas sem perceber sendo cativo daqueles que me alimentam
Como fazem os cães aos pulos variantes nos braços de seus adestradores
Como fazem os rebanhos aos olhos atentos dos pastores calados.
Necessitaremos sempre de um líder?

Do vinho sou abstêmio
Não pretendo manchar minha roupa nova e dominical
Ousaria eu manchá-la?

Hoje tenho a surdez em meus braços
Afago o seu nariz
fazendo com que esqueça sua horrenda conduta
Queria tê-la sempre presente em meu bolso direito
pois é de fácil acesso à mão mais calma que possuo
No bolso esquerdo guardaria uma dolla ainda não amarrotada
para dar-lhe quando despertar dum sono confuso
Bem sei que o carrasco sofre não pela barbárie do ato
mas sim por ter que carregar o machado por toda a vida.

Afilhado da Loucura:
em meu adormecer
tive todas as flores
provei de todas elas
muitas sem nem tocar
...os melhores beijos
tive das bocas que jamais ousei...

Com devida prudência perceberão:
tenho olhos secos
mãos ásperas
e um timbre de voz salubre
Os meus dedos são breves
ou são longos os objetos que busco
Orixás me guiam e me abastecem com suas armas
Mas antes – envio um ofício
com pedidos de licença ao Vaticano
pois ainda não me enviaram a carteirinha de ecumênico
nem mesmo fui excomungado ainda.

Vivo vagarosamente em meu auxílio
dentro de mim
quase sempre me perco
Retorno apenas quando todos os meus mortos estão em paz
e o barulho que produzem
não mais me amedronta.

Da esperança que não alimento edifico meus vícios
A lança que te ergo
aceita-a sem preocupação cristã
À faca: pão e mesa
Distribuída ao pendular da matéria
Não se deve ver beleza
no produto concreto daquilo que se beija
Constroem-se os hábitos e as mobílias
baseados nos cômodos da casa
Ou será o contrário?
Não sei. Definitivamente, não sei
E fui corrompido a não saber
pela quantidade de alucinógenos que me entupiram quando criança
Sei que bebo a quantidade devida
do líquido que as fábricas de copo
me induzem sutilmente a beber
e armazeno todo o resto
em recipientes construídos milimetricamente
com o intuito de adestrar a minha sede rotineira
e toda a minha esperança
Como se fosse necessário e a TV não executasse sua função devidamente
Me parece que até mesmo meu estômago
sofre com isso
e guarda compulsoriamente
cada golada que arrebato
com a precisa e gentil adaptação dos músculos do meu estômago.

Como orquestro meus sonhos
com as mesmas notas
que ouço rotineiramente advindas das Rádios
Como pinto minha tela de ilusão
com as mesmas cores
que absorvo rotineiramente advindas da tela do cinema
Como cumpro minha Arte a partir da arte de outros
e o carimbo latente do Cristianismo.

I
I
I
à parte de tudo isso?
quando estarei enfim
I
I
I
I
I
I
I
I

O Homem é produto da Fábrica e do Medo
E ele que se adapte ao câncer
pois deve moldar seu paladar
ao dissabor do alimento que digere
Como deve modular sua audição
à música que ouve
E seguiremos por um adestramento imperceptível
como todo adestramento válido
que alcança sua extensão exata
e o resultado aguardado agrada a todos:
é quando o bicho que se adestra
não se percebe adestrado
e a vida prossegue imperceptivelmente alienada
numa anestesia coletiva
para que não possamos gritar a dor
e assim acordar os nossos vizinhos em desespero.

nos alimentos;
nas flores;
nas artes;
nos cartões de Natal;
nas bocetas cobiçadas das meninas do interior
A indústria implantou um anestésico vicioso
de aroma agradável em cada um deles
Assim a Liberdade e a Felicidade
são palácios onde dormimos num chão frio e úmido
mas que jamais ousaremos negligenciar.

Quisera flor para toda primavera;
Quisera sol para todo riso;
Quisera dor para toda marca;
Quisera coisa-além.
O mundo deveria ser mais autônomo e fugir de seu completo anonimato.

Sou o que virá.
E o que se perde na distância do tempo.
Na desconstrução dos hábitos.
Em ingênuos comportamentos.
Assim me anuncio entre vós

cuspido pelo requinte de vitórias parcas
e glórias efêmeras
de um heroísmo falso e batalhas previamente perdidas
de superações ultrapassadas e vontades mudas
Carrego um cetro imbecil
ornamentado pelo desgaste de uma dinastia apática.



Rafael Sarajevo

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

METAMORFOSE


O poeta é autoflagelo
Carne dilacerada
Alma que se desnuda
Mil capas entranhadas.


O poeta é ferida aberta
Corpo exposto
Consciência da dor
Inconsciência de si.


O poeta está no mundo
O mundo dentro dele
A poesia dentro dele
Realidade transpirada.


O poeta é um ovo?
A clara? A gema?
Poeta é casca
Completa sensibilidade!


Masoquista!
Narcisista!
Exibicionista!
Ilusionista?


Poeta é inflamação
Hiroshima Nagasaki
Implosão mal planejada.

Pés aleijados
Caminho reto.
Mãos aleijadas
Poesia errante.


Poeta é raiz em terra estranha
Alimenta-se de nutrientes e poluentes
Não distingue as pedras que apanha.


Misto de amor e sanha
Um formigueiro na alma
Na mente: sarcasmo de aranha.


O tempo é mestre que ensina
Deslembrando um pouco de cada vez
Cada ruga, um cravo do calvário
Vulgar ironia, que desfaçatez!


Gregor Sansa meu espelho
Há no poeta mil kafkas
Não estranhe este rosto feio
Pois sou Eu com tuas marcas.

IVAN SANTANA

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

RECOMENDO




Esse eu recomendo achei essa peça rara em um sebo andando pelas ruas religiosas e conservadoras do Juazeiro do Norte.




...matamos o dragão,
matamos Jasão...
também Orfeu,
afinal,
pra que servem os poetas?!

Edson Xavier

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

CANSAÇO DAS ERAS



Vamos marchar em direção as nossas feridas
Semear agulhas por entre corações cansados
Desfilar nossas infelicidades
Purgar mazelas em bares amarelos
Não me apresentei devidamente
Me chamo Cansaço das Eras
Viajei por entre mundos tortos
Vi espadas nas mãos de santos
Confissões sem padres
Condenações sem réu
Inquisições para inocentes
O gosto da poeira
O sabor da dor
Andei entre doidos e mendigos
Li para ascetas e degenerados
Como estou exausto desse eterno retorno
Peles e ossos cansados , sorrisos em areia movediça
Eles são sempre os mesmo de outrora
Fracos, pálidos ,sem cor
Eles sempre são os mesmos
Os anos caminham e pessoas correm
O aço atravessa a carne
E a guerra passa na televisão.


Sou o Cansaço que fustiga a lepra que separa o homem do monstro
Sou o estandarte que simboliza o nada
O cruzado arrependido sem pátria

Estou cansado das mesmas eras
Do passar enjoativo da humanidade

Tenho que me entregar ao sono monossilábico
ao entrevero banal , prolixo
Desses santos corcundas.

Pois só assim vou compreender a raça humana
Apenas a ressaca sepulcral de todos os mundos pode me deixar cansado.

JOÃO HENRIQUE

domingo, 29 de agosto de 2010

VIOLENTAMENTE PACÍFICO




XII Festival Nacional a Imagem em 5 Minutos 2008- Violentamente Pacífico é um video de Gabriel Teixeira realizado no Bairro da Paz(Periferia de Salvador-BA) entrevistando Ras Mc Léo Carlos cidadão morador do bairro.ARTISTA-EDUCADOR, LIBERTARIO, RESISTINDO PACIFICAMENTE .


ESSE CARA TEM UMA IDEIA PARA PASSAR.UMA MENSAGEM FORTE DE REVOLTA E CERTEZA, QUE UM DIA PODEREMOS SER VIOLENTAMENTE PACÍFICOS.JOÃO HENRIQUE

sábado, 28 de agosto de 2010

Teatro do absurdo



A intensidade de meus sentimentos
é tão grande
que preciso contê-la,
esquecendo-os.
Mas eles são tão fúteis
que o melhor é aprisioná-los nos calabouços do espírito.

Vivo uma antítese absurda
numa existência que nunca muda
tão tragicômica que nem se rotula
hieroglífica de tão confusa.

Não há coesão nas minhas idéias.
Não há coesão em meus sentimentos.
Não há coesão em meus pensamentos.
Não há coesão em meu sofrimento.

Idealizo sem ter de verdade as idéias.
Sinto sem saber o que é sentimento.
Penso sem signos para o pensamento.
Sofro sem saber o porque do sofrimento.

Elkson Santana

quinta-feira, 27 de maio de 2010

ENTREVISTA :RAFAEL SARAJEVO






O FANTASCÓPIO CARIRI SEMPRE GOSTA DE TRAZER AOS NOSSOS LEITORES ALGUMAS NOVIDADES.O BLOG TEM ESSE COMPROMISSO DE TENTAR RETIRAR ESSES POETAS DA BASTILHA ONDE SEUS ESCRITOS ESTÃO ENCERRADOS.A ENTREVISTA QUE SEGUE É FEITA COM O POETA (por mais que ele não se intitule um) DE CÍCERO DANTAS CHAMADO RAFAEL SARAJEVO COM O SEU "Escritos de um inferno atômico " (JH)
F.C- Faça um resumo da sua existência como poeta para os leitores do blog.

RS- Eu não sou poeta. Ser poeta que fique para os aduladores ou caras que versejam e se intitulam santos senhores de toda misericórdia. Eu não sou poeta.

F.C- O que te influencia na hora de escrever?

RS- Não são obras nem autores. E posso escrever sobre coisas que nunca vivi ou nunca presenciei. Mas isso não me parece esquisito. Talvez cada um tenha um resumo de tudo que existe. Eu me refiro ao seguinte: o que são as nossas mães senão putas dos nossos pais. E vê como elas detestam as outras putas dos nossos pais, as que não subiram ao altar com eles, e vê como toda a sociedade as detesta, porque toda sociedade é formada por putas e por mães, nada mais.

F.C- Qual a utilidade da poesia nesse mundo caótico em que vivemos ?

RS- Nenhuma. Poesia não serve pra nada. Fico impressionado quando vejo alguem dizer “li tal livro, tal livro mudou a minha vida”. – qual medíocre deveria ser a vida deste que diz isso. Porque livros são escritos influenciados por vidas. São vidas que devem mudar livros (me refiro à forma de escrevê-los), e não o contrário.

F.C- Dei uma olhada no protótipo do seu livro e achei muito interessante.Você poderia nos falar do processo de criação até sua edição.

RS- O que você achou interessante no meu livro? Ah, o entrevistado sou eu. Ta. Olhe só, eu acredito ao longo da história muito disso já aconteceu. Alguns se intitularam ou foram intitulados santos, profetas, filósofos, médiuns, poetas. Ou até mesmo apostadores ou donas de casa na feitura de uma nova receita. Não importa qual nome imbecil se dê às coisas. Não importa o nome que recebam. Toda obra não passa de uma psicografia. Mas não advinda de espíritos como acredita a doutrina Kardecista, ou talvez sim para uns. Porém cada um usa um nome diferente para isso. Toda cultura diferencia-se apenas pelas nomenclaturas empregadas. E talvez não tenha sido diferente no meu caso.

F.C- A frase de André Breton “o futuro do poeta é ser uma assombração” tem algo a ver com a sua poesia ou vai na contra mão do que você escreve?


RS- Acho muita prepotência acreditar que o poeta assombra alguém. Não, acho que de fato não. Ao menos não esse poeta que escreve livros e tal. Porque existem diversos poetas espalhados por aí mundo a fora. E que nunca escreveram uma linha. Existem poetas que são policiais, palhaços, mega empresários, donos de crocodilo, fãs alucinadas, vendedores de droga, coroinhas rebeldes, prostitutas fieis, donos de bar. Talvez esses poetas, os que nada escrevem, são os que mais contribuem com a poesia. Aí você deve me perguntar “então por que o Rimbaud escrevia, então por que o Bob Dylan canta, então por que o Salvador Dali fez quadros?”. Cara, é que essas figuras fazem tudo isso pelos medíocres (sejam eles intelectualizados ou não, não importa). Esses que não sabem ver poesia a não ser de forma material, exposta num livro, letra por letra, frase por frase. Seres imediatistas e preguiçosos. Como vocês que visitam esse blog e lêem essa entrevista agora. E acham legal e tal. Mas se perdem diante de alguma poesia escrita em lugar nenhum mas viva, que te cerca e você não sabe do que se trata, e precisa do Rimbaud, do Dylan ou do Salvador Dali pra fazer com que vocês enxerguem a porra da poesia. Poetas são apenas tradutores.

F.C- Escritos de um inferno atômico. Procura passar que espécie de sentimento ? Caos, tormento, loucura?

RS- Os sentimentos precisam ser reinventados. Instituições diversas se apossaram do amor, do caos, do sorriso, da dor de barriga, em alguns casos até os patenteando.

F.C- Deixe suas palavras, fale o que quiser para os leitores?

RS -(...)

Entrevista


Resolvi apresentar aos nossos leitores caras novas.Mostra esse poetas escondidos nessas bastilhas .Convidei Rafael Sarajevo poeta de Cícero Dantas para bater um papo e falar de sua poesia


1.Faça um resumo da sua existência como poeta para os leitores do blog.

RS- Eu não sou poeta. Ser poeta que fique para os aduladores ou caras que versejam e se intitulam santos senhores de toda misericórdia. Eu não sou poeta.

2.O que te influencia na hora de escrever?

RS- Não são obras nem autores. E posso escrever sobre coisas que nunca vivi ou nunca presenciei. Mas isso não me parece esquisito. Talvez cada um tenha um resumo de tudo que existe. Eu me refiro ao seguinte: o que são as nossas mães senão putas dos nossos pais. E vê como elas detestam as outras putas dos nossos pais, as que não subiram ao altar com eles, e vê como toda a sociedade as detesta, porque toda sociedade é formada por putas e por mães, nada mais.

3.Qual a utilidade da poesia nesse mundo caótico em que vivemos ?

RS- Nenhuma. Poesia não serve pra nada. Fico impressionado quando vejo alguem dizer “li tal livro, tal livro mudou a minha vida”. – qual medíocre deveria ser a vida deste que diz isso. Porque livros são escritos influenciados por vidas. São vidas que devem mudar livros (me refiro à forma de escrevê-los), e não o contrário.

4.Dei uma olhada no protótipo do seu livro e achei muito interessante.Você poderia nos falar do processo de criação até sua edição.

RS- O que você achou interessante no meu livro? Ah, o entrevistado sou eu. Ta. Olhe só, eu acredito ao longo da história muito disso já aconteceu. Alguns se intitularam ou foram intitulados santos, profetas, filósofos, médiuns, poetas. Ou até mesmo apostadores ou donas de casa na feitura de uma nova receita. Não importa qual nome imbecil se dê às coisas. Não importa o nome que recebam. Toda obra não passa de uma psicografia. Mas não advinda de espíritos como acredita a doutrina Kardecista, ou talvez sim para uns. Porém cada um usa um nome diferente para isso. Toda cultura diferencia-se apenas pelas nomenclaturas empregadas. E talvez não tenha sido diferente no meu caso.

5.A frase de André Breton “o futuro do poeta é ser uma assombração” tem algo a ver com a sua poesia ou vai na contra mão do que você escreve?


RS- Acho muita prepotência acreditar que o poeta assombra alguém. Não, acho que de fato não. Ao menos não esse poeta que escreve livros e tal. Porque existem diversos poetas espalhados por aí mundo a fora. E que nunca escreveram uma linha. Existem poetas que são policiais, palhaços, mega empresários, donos de crocodilo, fãs alucinadas, vendedores de droga, coroinhas rebeldes, prostitutas fieis, donos de bar. Talvez esses poetas, os que nada escrevem, são os que mais contribuem com a poesia. Aí você deve me perguntar “então por que o Rimbaud escrevia, então por que o Bob Dylan canta, então por que o Salvador Dali fez quadros?”. Cara, é que essas figuras fazem tudo isso pelos medíocres (sejam eles intelectualizados ou não, não importa). Esses que não sabem ver poesia a não ser de forma material, exposta num livro, letra por letra, frase por frase. Seres imediatistas e preguiçosos. Como vocês que visitam esse blog e lêem essa entrevista agora. E acham legal e tal. Mas se perdem diante de alguma poesia escrita em lugar nenhum mas viva, que te cerca e você não sabe do que se trata, e precisa do Rimbaud, do Dylan ou do Salvador Dali pra fazer com que vocês enxerguem a porra da poesia. Poetas são apenas tradutores.

6.Escritos de um inferno atômico. Procura passar que espécie de sentimento ? Caos, tormento, loucura?

RS- Os sentimentos precisam ser reinventados. Instituições diversas se apossaram do amor, do caos, do sorriso, da dor de barriga, em alguns casos até os patenteando.

7.Deixe suas palavras, fale o que quiser para os leitores?

RS -(...)

domingo, 23 de maio de 2010

O prazer famélico






Passei como quem não passa e olhei como se não visse nada,mas vi um casal de fome desfilando suas tripas secas e ferozes pela rua. A mulher trazia consigo um horror fiel ao seu desespero.O homem deixava migalhas de alegria em cada porta que batia,seu olhar nada dizia nada pronunciava, mudo pela fome alimentava-se de pavor e ódio. Juntos de mãos dadas o casal andava aos tropeços ,viam a tarde amortalhar o dia ,a sombra comer suas costelas .Tudo cheirava a magoas sem caixões a defuntos sem despedidas .Apenas sentiam fome ,a fome inútil que não da feriado, que esconde no roçar das tripas o desejo de comer o mundo ,pular em um prato de misericórdia cristã ,pedir o que não poder ser pedido. O sexo da fome suava em seus corpos magros e indigestos que murmuravam alegres libertinagens ,os olhares afogavam-se em sensualidades e os beijos mortos navegavam em línguas bravias enquanto mãos ásperas roçavam pela buceta esquálida dando oportunidade a um pau fétido e sujo penetrar nesse regaço fedorento e moribundo. Gemidos ,afagos,orgasmos simulados. Finalmente a fome goza sem pecado e amanhã é um novo dia para executar a dança maldita dos estômagos

JOÃO HENRIQUE

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A — CA— DE — MI— CUS!

A — CA— DE — MI— CUS!

Academi-cus!
Quanta poesia desperdiçada
Tudo que não é academicus
é vanglória infundada.


Academicus nus pícaros homéricos
Sua sapiência tornou-se branda
O conhecimento rasgando o abismo
Dialética das duas bandas.


Virtuoso proceder hermético!
A Comprovação é empírica.
Separando o C do U
Faz-se ciência lírica.
No plano cartesiano
Sancho Pança está correto
Desnuda-se a verdade
pelo Caleidoscópio Reto.


Viva o plural!
S, recurso para outros us.
Quantos anus é preciso
para tornar-se academicus?
Anos! Muitos anos! Árduos anos de labutação.


Labutaram muitos anos
Hoje eles são PH.Ds
De tanto labutarem
Na cabeça entra sem doer.

Não há mais cabresto
Chegou ao magma da próstata
Já vislumbram o arco-íris
Verbalização pedagógica!


Senhores da Verdade
Ignorância impossibilidade tola
Zen no cume apoiados
No éden auscultam a rola:

Piu-piu!
Academicus...!
Ivan Santana

As Trevas, a Luz e a Cegueira das Luzes




I – Renascer entre Brumas

Dante teria razão?
É preciso morrer
Em Galileu Kepler Copérnico...
Ser humano em Guiotto.
Mostrarei a dor dos deuses e apodrecerei em Shakespeare.
Não há veneno o bastante para isso, me diz Julieta.
Modernidade, é preciso perder-se de ser puro.
Mas nem todas as noites são propícias.
Nem todos os Tempos.

Transar Vênus.
Ser profano: pagão de alma que fomos.
E vaguear feito eterno Quixote que somos.
Sem nenhum dom.
Dante teria Razão?
Esqueçam os moinhos.
Agora demoliremos prédios e máquinas.
De nossas espadas voadoras
Coagula-se uma possível, humm... deixe-me ver, (...) uma possível... idéia fresca de Liberdade.

Ser realista ou maquiavélico:
Temido ou amado? - não sei.
Um simples toque de Miguelangelo... é necessária a vida.
Educar-me na escola de Sanzio
E perceber que tanta descoberta
Torna o homem cretino e despreocupadamente vazio.
Por que plantou Deus tantas árvores no mundo?
Talvez tivesse Ele uma antevisão do renascimento.
Dante teria razão.

II - Então se fez Luz

Há quem não leia Rousseau
E é por isso que tento me precaver contra os homens.
Posso gritar Voltaire
Minha voz é livre nos tempos modernos mas nem todos os ouvidos seguem o tempo.
E a Democracia faz da Liberdade uma velha paralítica e banguela.
Assim como nem todas as liberdades são concretas.
Vejo uma modernidade em cárcere atar-se a uma dinastia esquecida.
Ser informal em Mozart.
Não falarei nem do lobo nem do homem... deixe que se destruam.
Pois sou selvagem. Catedraticamente selvagem.
Acorde, Locke. É tempo de rebelar-me?


III - Anti-Arte???

E tudo isso é arte ciência e filosofia
É a nossa arte
A nossa ciência
E a nossa filosofia
É o que entendemos por arte ciência e filosofia
É o que nos sobrou da arte da ciência e da filosofia
E as transportamos em nossos hábitos
Com o transpassar dos Tempos
Em gestos despercebidos e confusos
Em vestes desprovidas de coloração
E tudo isso é enfadonhamente chato
E desesperadamente triste:
- pretensiosamente inaudito
Quero ser pop
Ouvir o ruído do público
Morrer de overdose
E ter a cara transfigurada
Num quadro assinado pelo Andy Warhol
Vendo minha alma se for preciso
Enterremos a Arte para que ela possa germinar
Com maior aspereza e exatidão
E a dizer mais, confirmo:
Dante é um moleque imbecil desprovido de razão
Que cumpre a morte à procura de sua amada
(como tantos outros)
Como se nenhuma outra trepada
Fosse suficientemente satisfatória
A seus paus mal usados.
É necessário esquecê-los
E devorá-los em criptomnésia.
Então: sepultemos a Arte de uma vez
Ou é necessário que aguardemos a chegada de um novo Messias?
Um Messias das Artes
Que morra por nós
E nos faça sentir culpa de tudo isso.

Rafael Sarajevo

domingo, 21 de março de 2010

QUART 4B + UMA DICA DE FILME



http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=6817850 (entra e faz uma polêmica)

Filme bem interessante para um debate.Todo filmado em uma sala de aula ,isso serve para mostrar que ainda tá valendo a máxima uma câmara na mão uma idéia na cabeça. Para não escrever muito e dar dicas, só assistindo para gente chocar as opiniões .Inovador,agressivo,sarcástico,um tapa na cara o resto é com vocês.
JOÃO HENRIQUE


quinta-feira, 11 de março de 2010

Soneto de eterno gozo



Sonho contemplar teus lábios entreabertos

tua boca fresquinha, rosada e nua

a tua língua me amará, estou bem certo

cravando-me os dentes na carne crua.

Consumido pela gruta dos enxertos

bebo do paladar doce da pua

uma ardente quentura cerca-nos de perto

sentindo teu calor a minha pele sua.

Sussurros deleitosos e excitantes

pululam desta macia alcova em apertos

gemendo, uivando...Sou toda sua.

Fundidos em abraços picantes

o frenesi dos corpos regem o concerto

inflamando o tíbio clarão da lua.

Por Ivan Santana

2006.

O cheiro de Tânatos



Minhas epilpsias agora viraram música
Perdidas na melodia de um arpejo sangrento
Cuspidas sem canto cambaleando na boca de Tânatos
Misturando-se ao hálito fresco da morte

O vento não me venta mais
Faço fogueiras aos incêndios mais frios
Ò Dédalo ! faça com que eu não posso ser achado
Me perca entre velhas desconhecidas
Remendarei rostos no meu espelho

Estou á sentir o cheiro de tudo que é derradeiro
Escondido, não passo de um Diogénis sem luz
Dormindo, um morto sonhador

Beijo os trovões do Olimpo
Saúdo os dias que não viram
O agouro sem farsas enveredando pela minha carne
Aceito meu propósito

Cem bodes a Tânatos !
Cem bodes a Tânatos !

O sono se faz mister
O caos vomita instantes sem gosto
Saboreando o amargo de um defunto sem explicação



JOÃO HENRIQUE 03/02/2010


















terça-feira, 2 de março de 2010

DICA DE FILME : A ONDA


Um ótimo filme para se ver e analisar.A cervejaria de Munique ainda continua viva dentro de alguns de nós
já passamos por várias ondas. Essa eu dispenso.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Clique e dê uma olhada


entrevista retirada do jornal A tarde -BA

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Embreagues Devota


Pintura de Ricardo Cruzeiro



Me vejo na terra, sangrando,
ferido, sigo sem rumo,
vinho e ervas consumo,
aos céus eu subo sonhando,
os acertos e erros contando
na fumaça torpe das nuvens,
fico a esperar que me julguém
os seres alados da morte,
dopado, ferido, sem sorte
visagens felizes me iludem,
viram, reviram e confundem
os sentidos reais de minh'alma
e tudo isso me acalma
das dores que tenho sentido.

Edson Xavier